Marcia Rejane Semensato
Autismo: reconhecendo a vida no espectro
Docente do Curso de Psicologia da Faculdade EstácioRS
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Muitas pessoas têm se perguntado: existe uma “epidemia” de autismo? O número de pessoas com autismo está aumentando? É uma observação coerente, baseada na constatação real do aumento de casos diagnosticados. Por outro lado, nos perguntamos o porquê.
Algumas ideias são claras nesse sentido: hoje temos capacitação adequada para o diagnóstico, tanto precoce, quanto tardio, além do maior esclarecimento populacional, maior divulgação e diminuição do estigma: deixa de ser algo longínquo e encontramos pessoas com o diagnóstico em nosso entorno.
Há casos em que adultos percebem em si certa semelhança, por exemplo, na avaliação de um familiar. Também ocorre que casos mais leves, anteriormente não identificados, sejam percebidos. Eles podem, ao longo da vida, ter criado estratégias para lidar com algumas dificuldades que agora, talvez, possam ser mais bem compreendidas.
Já não é raro ver pessoas adultas buscando orientação e/ou auxílio para saber se estão no espectro, pois se identificam, ao menos, parcialmente. Elas vivem suas vidas, com seu jeito particular. O que pode nos surpreender é que nem sempre é assustador: muitos adultos relatam que passaram a compreender melhor o significado de algumas dificuldades, como interpretar o que os outros pensam ou sentem, bem como interpretar expressões faciais, sinais da nossa linguagem social e até brincadeiras ou piadas. A dificuldade nas relações também é questionamento de algumas pessoas, como uma troca espontânea, assuntos do dia a dia, tendência a focar em interesses mais específicos e não se interessar tanto ou não se engajar em outras trocas nas interações, bem como em experiências que envolvam mudanças.
A concepção de Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos traz isso: é um espectro, no qual as pessoas compartilham características, em graus diferenciados. Hoje podemos falar de forma mais aproximada e cuidar de forma mais coerente do desenvolvimento e percursos de vida de crianças. Podemos cuidar melhor também de seus pais e familiares. Compreender suas vivências é um início.
Entretanto, convivemos com diferenças e semelhanças em todas as etapas da vida e vemos pessoas com autismo nos mais variados graus. Nesse sentido é bom lembrar: as pessoas não são exclusivamente autistas; elas também têm subjetividade, têm seu jeito particular em outros aspectos. Desta forma, as terapêuticas podem e merecem ser pensadas e planejadas levando em conta as dificuldades, potenciais e a singularidade de cada pessoa nas diversas etapas de suas vidas.
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